Acabo de voltar do dentista, onde fui submetida a um tratamento a laser de última geração aí chamado “LAPIP”, ou “LANAP” (nem mesmo os criadores e os praticantes do protocolo de “salvamento” de implantes conseguem chegar a uma conclusão sobre qual acrônimo utilizar, nem preciso mencionar que muito menos os pacientes submetidos ao procedimento).
Ainda estou anestesiada.
LAPIP — pesquisei para aprender — quer dizer “Protocolo de Tratamento de Peri-Implantite Assistido por Laser”.
LANAP quer dizer “Novo Procedimento de Acoplamento Assistido por Laser”.
Durma-se com um barulho desses.
E por falar nisso, vocês sabiam que “laser” é na verdade um acrônimo?
Sim. Quer dizer “Amplificação de Luz por Emissão Estimulada de Radiação”. É claro que, nesta altura, todo mundo sabe o que é laser — que, por sinal, com a evolução do conceito até perdeu suas maiúsculas e se tornou mais uma entre o mais de um milhão de palavras que atualmente constituem o Oxford English Dictionary e a cada dia aumentam mais, incluindo os avançados conceitos woke que tanto amamos.
A indigesta sopa de letrinhas tem sua origem no idioma militar onde há um acrônimo organizado para cada coisa, como complemento do altamente codificado linguajar dos operadores. Duvido, por exemplo, que os espectadores não americanos da popular série militar “Shooter”, com a qual me “embebedei” no último fim de semana — embebedar-se sendo uma tentativa de tradução do termo “binge”, que não faço ideia de como foi traduzido “oficialmente” no Brasil e que significa o ato insano (tão insano quanto uma bebedeira) de passar o final de semana inteiro na cama assistindo de uma só tacada a todos os episódios de uma série que levou três anos para ser exibida originalmente. Quando me mudei para os Estados Unidos, há quase oito anos, não fazia ideia de que um dia, muito em breve, me viciaria em “séries da Netflix”, um vício que só fez se disseminar e se agravar nos tempos da covid... opa, até me perdi nessa descrição.
Voltando a “Shooter”: a cada cinco minutos a gente escuta o protagonista pedir a um comparsa para “proteger seu ‘seis’”, algo que, embora seja uma rima imperfeita, não faz nenhum sentido em português.
Fico só imaginando o que o tradutor da legenda fez a respeito, já que “seis”, no linguajar militar, é a sua “retaguarda”, de acordo com a mania de equivaler as direções ao ângulo dos ponteiros do relógio, algo que na vida real já deixou de existir há muito tempo — tanto os ponteiros quanto os respectivos ângulos —, desde que os relógios se tornaram digitais e passaram a exibir, simplesmente, a hora certa em numeral. “11 horas” [eleven o’oclock] por exemplo, é uma localização mais ou menos 15 graus à sua esquerda, considerando que você é o centro de tudo.
Mas que Delta Romeu Oscar Golfe Alfa!
Em tempo, essa última codificação é o exato oposto de um acrônimo, quer dizer, em vez de resumir cada palavra em sua inicial com isso formando uma outra palavra, cada letra de uma palavra é expandida em uma palavra inteira de acordo com o “alfabeto da OTAN”.
Não admira que ninguém mais consiga entender seu próximo... Pura Babel.
Um dos aspectos mais perturbadores da nova cultura é seu reflexo na educação das crianças. Esta semana, por exemplo, descobri que as crianças americanas não são mais “alfabetizadas”, um conceito muito ultrapassado como todo mundo sabe. Em vez de aprenderem as 26 letras do alfabeto (em inglês, incluindo W, X, Y, Z) e, consequentemente, a soletrar as palavras e reconhecê-las como um conjunto de letras/sons — o tradicional método “Fônico” — a “novidade” agora é a Abordagem de Palavras Inteiras (do inglês “Whole-Word Approach”, o WWA), quer dizer, as crianças de hoje precisam aprender a memorizar a leitura daquele um milhão de palavras que mencionei mais acima... uma por uma...
Entenderam? 1.000.000 em vez de 26? Deve ser o método chinês de aprender inglês, não é?
O problema é que... a teoria está errada, e os professores “não fazem a menor ideia de como o cérebro de uma criança aprende a ler”, como afirma esse artigo.
Como resultado, atualmente 35% das crianças americanas são, simplesmente, a-nal-fa-be-tas! Não todas, porque graças a Deus, devido a uma abordagem “conservadora”, os dois métodos ainda são ensinados concomitantemente...
E a insanidade educacional não para por aí, não, senhor. Um excelente artigo publicado esta semana pela escritora Kimberly Ells, defensora da tradicional família americana na guerra contra os wokenismos da UNESCO, nos conta como a sua (e agora também a nossa) arqui-inimiga UNESCO está impondo nas escolas o duvidoso conceito de SEL (Aprendizado Social e Emocional, sendo que no artigo Kimberly ainda menciona o CASEL, Colaborativo para o Aprendizado Acadêmico, Social e Emocional) que, francamente, apesar de suas “boas intenções” de promover a paz e a harmonia mundial, pretende, na verdade, transformar os futuros adultos em robôs incapazes de pensar e de discordar, prontos para “aceitar pacificamente as dissonâncias criadas pela natureza conflitante dos SDGs” — SDGs significando, é claro, os “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” da UNESCO, digo, Organização Cultural, Científica e Educacional das Nações Unidas, ah, bom.
Ah, esses malditos acrônimos. Ninguém sabe o que significam e, quando a gente descobre, geralmente é tarde demais: já envenenaram seu cotidiano e tomaram conta da sua vida.
A tradução — ou “localização”, para os íntimos — dos acrônimos é uma pedra constante no meu sapato de tradutora. Alguns são localizados, outros devem ser deixados no original, e Deus me dê serenidade para conseguir distinguir uma coisa da outra.
No outro dia, por exemplo, precisei decifrar o significado de “IHE IOCM”, um exemplar com o qual, apesar de todos os meus anos de experiência, não havia me deparado antes. Para quem não sabe, os acrônimos são tão onipresentes, especialmente nas nossas vidas profissionais, que existem até dicionários de acrônimos especializados, então, IOCM: Gerenciamento de Alterações de Objetos de Diagnóstico por Imagem, ufa. Mas com o IHE a coisa foi bem diferente, porque, embora a primeira opção fosse a correta Integração da Empresa de Prestação de Serviços de Saúde, a segunda era muito mais interessante... e muito mais adequada também ao nosso status quo, no original em inglês: I Hate Everything.
Honestamente, odeio tudo isso que está aí.
E já que estamos falando em acrônimos, em aprender a ler, em modernidade etc., estou fazendo uma tradução e me deparei com a seguinte definição politicamente correta de... vamos ver se vocês adivinham.
O que é uma ”pessoa que enfrenta difíceis condições de vida como morador de rua em situação de desabrigo”?
Você acertou: um “mendigo”! Sim, 15 palavras ao invés de uma única que a descreve com a maior exatidão possível.
Como diz o Alan, quem inventa esse tipo de atentado contra o bom senso e o idioma são “pessoas desesperadas em situação de pedantismo”.
Incrível como o sentido de um acrônimo pode ser facilmente manipulado de modo que passe a significar seu exato oposto. O termo “MAGA”, utilizado por Trump como slogan de sua campanha presidencial em 2016, foi cooptado pelos democratas e passou a significar algo nefasto, negativamente enfatizado pelos qualificativos difamatórios Super Maga, Ultra Maga e nesta quinta-feira passou, finalmente, por meio de um discurso de Joe Biden, a significar “semifascista”, seja lá o que isso significa.
E você, sabe o que quer dizer o acrônimo MAGA?
“Make America Great Again”, quer dizer, uma coisa boa, ótima, excelente.
Será que os democratas não estão nem um pouco interessados em “tornar a América excelente de novo”?
Tudo indica que não!
Hoje estou sofrendo com uma tradução cheia de acrônimos e ideias esdrúxulas, haja paciência! Fazer o quê?