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O destino da maior democracia do mundo — já escuto as obrigatórias correções: não se trata de uma democracia, mas de uma república democrática — está sendo rasgado em pedacinhos, jogado na privada e enviado para o esgoto pelo toque na descarga.
A “icônica” foto do famoso vaso sanitário em que, dizem, o FBI se baseou, e que será eternizada em breve pela publicação do livro de Maggie Habberman, pitonisa política do New York Times e arqui-inimiga de Trump, mostra documentos confidenciais pertencentes ao governo americano picados e jogados na privada pelo ex-presidente dos Estados Unidos, acredite quem quiser.
A alegada destruição dos perigosos documentos supostamente deu origem, na última terça-feira, à forçada incursão de mais de 30 agentes da lei na famosa Mar-a-Lago, mansão da Flórida que há poucos anos abrigou os maiores estadistas do mundo, tendo sido testemunha de momentos verdadeiramente icônicos como Xi Jinping e Donald Trump compartilhando uma torta de chocolate à mesa do banquete enquanto os Estados Unidos estavam bombardeando a Síria.
Bons tempos.
Não porque a Síria estivesse em guerra e sendo bombardeada, claro que não, mas por ser uma época, não muito distante, em que nos sentíamos bem mais seguros em um mundo eternamente conturbado, com a China sob controle e os Estados Unidos sendo respeitados comme il faut, ainda preservando a velha e boa Pax Americana hoje também picada em pedacinhos e atirada na privada.
Deixem-me esclarecer que todo esse respeito por Trump — e a segurança mundial resultante — era algo restrito às lideranças globais, muito distantes da “opinião pública” que cada vez mais infesta os jornais e as redes sociais. Cerca de uns 89% da população mundial discordariam dessas minhas controversas afirmações, convencidos que estão de que Donald Trump é o “perigo laranja” e outras bobagens semelhantes.
Ontem mesmo me envolvi em uma hilária discussão no Times of London, algo que ultimamente gosto de fazer para me divertir. A gente faz o que pode, né?
Na sessão de comentários do artigo, as pessoas fizeram o possível e o impossível para justificar os “crimes” de Trump, como se, imaginem, minha alegação de que “Trump jamais teria uma privada com tampo de plástico” fosse a sério! Embora, como vocês bem sabem, toda piada tenha um fundo de verdade...
O “lar” de Trump — na verdade um restrito clube privé onde, dizem, os privilegiados podem compartilhar o suntuoso salão de jantar do ex-presidente por um punhado de dólares — foi meticulosamente vasculhado, incluindo o closet da ex-primeira-dama, com todos os hifens a que ela tem direito.
Todo mundo sabe que o closet de uma dama é um reduto ultrassecreto, ergo, o esconderijo perfeito para segredos de estado roubados. Ou seria um legado da velha e famosa perversão de J. Edgar Hoover, que, como todo mundo sabe, nos intervalos de sua suposta macheza, quando se deliciava escutando as traições do mulherengo Martin Luther King, gostava de se vestir de mulher?
Moderno, esse J. Edgar. Vanguardista. Um legítimo filhinho da mãe.
Até a comida no freezer foi vasculhada em Mar-a-Lago, pois todo mundo sabe que os verdadeiros bilionários deste mundo preservam sua fortuna entre os cubos de gelo nos paraísos fiscais — agora, com o aquecimento global da corrupção, sob sério risco de derretimento. Não admira que a lista de bens confiscados inclua um guardanapo e as cartas de amor de King Jong-un, para nem mencionar a cópia manuscrita do código nuclear por meio da qual Trump mantém — ou mantinha — seu controle sobre o “estado profundo”, dinamitando diária e sub-repticiamente a vetusta autoridade de seu sucessor Joseph Biden II, imperador de Roma.
Trump, como todo mundo sabe, sempre foi um incendiário e, segundo o Times of Israel, useiro e vezeiro em publicar segredos militares no Twitter. Mas agora chega de especulação e disse-me-disse, porque o mundo real está pegando fogo e nossos valores mais caros estão sendo jogados vocês bem sabem onde.
Com a falta de um gato que nos proteja, os ratos estão muito à vontade, saindo de seus esconderijos com total destemor.
Vejam o Irã, por exemplo, colecionando vitórias ao redor do mundo com suas ações espúrias enquanto os EUA continuam empenhados em retornar ao quase unanimemente deplorado acordo nuclear, com as conversações ultimamente sendo intermediadas pela Rússia.
Nesta altura até o saudoso Stanislaw Ponte Preta estaria coçando a cabeça tentando entender como se dão essas negociações de poder mundial, mas tudo isso são firulas frente à dor da vida real.
Pois imaginem vocês que ontem à tarde, em Nova York, 33 anos após a declaração da sua sentença de morte lavrada pelo aiatolá, o escritor Salman Rushdie chegou finalmente à ponta da faca que incessantemente o perseguiu por todos esses anos, assombrando todos os locais onde o infiel se abrigou, tentando burlar as proteções do governo britânico e prometendo pagar US$ 3 milhões a quem conseguisse calar a presa preciosa que ousou vilipendiar o Profeta Maomé com sua inigualável maestria literária.
Rushdie, 75, dizem, tinha finalmente relaxado e vivia nos Estados Unidos despreocupado. Foi atacado por um ativista do qual pouco se sabe — e que foi preso pela segurança do estabelecimento — quando se preparava para dar uma palestra em Chautauqua, no norte do estado.
Neste momento em que escrevo, Rushdie foi operado e está entubado no hospital.
Torcemos ardentemente para que sobreviva, como homem e como símbolo, porque, francamente, alguém precisa se levantar e botar finalmente o pau nesta mesa caótica em que se transformou o mundo.
Neste mês de outubro completarei 8 anos fora do Brasil. Devido à falta de um testemunho pessoal, evito dar minha opinião sobre a política nacional. Mas, quando vejo “famosos” e “celebridades” declarando seu apoio a Lula, meu sangue ferve.
Have you no shame?
Corrupto. Aproveitador. Ex-detento.
Meninos, eu vi. Eu vivi.
Eu deveria ser grata a Lula. Por causa dele deixei para sempre o meu país e me tornei estrangeira, no primeiro mundo embora.