Guerra e charme: retratos de bravura moderna
Tudo passa, tudo acaba, tudo se esquece.
Mas às vezes tudo se repete, com frequência levemente repaginado.
Lembram quando Bolsonaro desprezou a vacina e disse que a covid não passava de uma “gripezinha”?
A ousadia pode ter lhe saído caro. Pode ter lhe custado a futura reeleição (e aqui vou me abster de aplicar o popular ditado francês acima para tentar explicar a ascensão pós-queda de vocês sabem quem).
Pois imaginem vocês que depois de dois anos, da paralização da vida e da economia mundial e de quatro ou cinco doses da vacina... a covid finalmente materializou a ameaça de não passar de uma gripezinha.
Nem o olfato e o paladar a gente perde mais...
Há dois anos, quando contraiu o vírus, Trump foi internado no hospital com pneumonia (e sabe-se lá o que mais) e recebeu um tratamento caríssimo, exclusivo, por via intravenosa.
Na semana passada, apesar de todas as máscaras, vacinas, distanciamento social e todas as outras bobagens que inventaram para nos distrair enquanto o vírus seguia em sua trajetória — natural ou provocada, vai saber — foi a vez de Joe Biden pagar seu tributo à covid.
Felizmente, desta vez, não passou de uma esmolinha. Biden se “isolou” — mais ou menos, pois teve a companhia do videojornalista que o documentou — no escritório, de terno sem gravata, ficou um pouco rouco e quase que por “milagre”, se levarmos em conta a idade e outras múltiplas comorbidades, cinco dias depois estava completamente curado!
Já vou avisando que estou especulando e não há nenhuma informação nem nenhum rumor neste sentido, mas estou um pouco desconfiada de que essa covid muito oportuna de Biden foi na verdade uma gripezinha e esses testes positivos mais uma mentirinha carioca da Casa Branca.
Afinal de contas, esse pessoal mente que nem sente, o tempo todo.
Na quinta-feira, por exemplo, o relatório do PIB informando que a economia americana encolheu pelo segundo trimestre seguido foi solenemente ignorado, a ideia de que entramos em recessão tendo sido superada porque esta semana, acreditem, os bambambãs da economia simplesmente mudaram a definição de recessão para fazer frente à ameaça. Por conta disso, até a Wikipedia alterou a definição tradicional válida há dezenas de anos, tal o poder da “narrativa” oficial esquerdista ora em curso.
Por que cargas d’água não pensamos nisso quando a inflação brasileira estava na casa dos dois dígitos... por semana? Bastava ter mudado a definição de inflação, não é mesmo? Nem teríamos precisado do Plano Real.
O lado bom de tudo isso é que, depois de dois anos querendo nos convencer de que o mundo estava para acabar, na última quarta-feira Biden declarou que a covid se transformou em uma virose insignificante, nos comunicou que tem remédio de graça para todo mundo e nos disse que a covid é uma coisinha à toa, ninguém mais precisa ter medo do vírus e todos podem se sentir livres para voltar a viver.
Finalmente! Obrigada, Presidente!
Até a ideia de um “novo normal” foi descartada de uma hora para outra, tudo em nome de... sinceramente, não sei. Da campanha para as eleições de novembro, talvez? Já que a propaganda no sentido oposto, quando muita gente foi tachada de criminosa e assassina, milhões de pessoas perderam seus empregos e soldados foram expulsos do exército porque não queriam se vacinar não deu muito certo, vamos combinar. Esta semana, a reprovação de Biden chegou aos 78%.
Mas mudemos de assunto.
Lembram de Volodymyr Zelensky, o heroico presidente da Ucrânia que, da noite para o dia, se transformou em um ícone indiscutível das multidões?
Pois imaginem vocês que, com seu eterno modelito verde-oliva e graças à extensa e bem-sucedida campanha internacional de relações públicas, o valoroso guerreiro e defensor dos fracos, invadidos e oprimidos acaba de chegar... à capa da Vogue!
Fala sério.
Como vocês sabem, criticar Volodymyr Zelensky é pecado mortal, ainda mais grave do que ser climacética, denunciar bloqueadores de puberdade e negar que homens podem engravidar.
Eu mesma, devo confessar, me deixei envolver pelas brumas do heroísmo que enevoaram nosso entendimento quanto ao que realmente estava acontecendo na Ucrânia — e continua acontecendo, só que agora o assunto perdeu seu “mojo” e, consequentemente, as manchetes do horário nobre e dos maiores jornais. Vibrei de admiração com a ousadia de Zelensky ao comparecer — por vídeo, obviamente — aos maiores fóruns e às mais importantes casas legislativas do mundo, desde o Congresso americano ao Parlamento inglês, passando pela ONU, pela União Europeia e pelos parlamentos de vários outros países, sempre com uma mensagem na ponta do lápis e na ponta da língua sendo transmitida com grande oportunismo — no bom sentido, é claro.
Agora que todo esse momentum parece estar esfriando, Zelensky apelou para mais um argumento infalível: o charme de sua primeira-dama, interpretado pelas lentes ultrafamosas da super hype Annie Leibovitz.
Ser fotografado por Annie Leibovitz em meio aos escombros (encenados) da guerra, vamos combinar, não é para qualquer um. Os fracos de espírito que se apoquentem: triste do país que não precisa de heróis!
Olhem, eu e mais alguns bilhões de pessoas em todo o mundo estamos nos confessando em estado de choque com a disponibilidade de Zelensky de posar para a Vogue enquanto centenas de pessoas estão sendo bombardeadas e perdendo tudo o que têm, inclusive a vida.
Pode até ser que, para ele, tudo isso não passe de mais um sacrifício pessoal, mais um passo doloroso e necessário em sua campanha para conquistar o apoio do ocidente e salvar seu país das garras do Kremlin, mas, não sei.
Está me parecendo que esses poucos instantâneos com abundância de charme e carisma custarão bilhões de dólares ao nosso homem em Kiev, para nem mencionar as vidas perdidas e o idealismo carinhosamente cultivado por milhões de pessoas em busca de sua própria salvação moral.
O ser humano, mais cedo ou mais tarde, sempre decepciona.