A gente começa a ter uma verdadeira noção da própria mortalidade quando os amigos queridos da nossa juventude começam a morrer. A impressão é de que todos se irão eventualmente e seremos testemunhas do espaço vazio que eles deixam até que chegue a nossa própria vez.
Tive dois amores quase simultâneos entre os meus 17 e os meus 20 anos, eventualmente me “assentando” com um deles sem nunca ter aberto mão totalmente do outro, por isso a referência ao romântico triângulo amoroso do festejado filme de François Truffaut dos anos 1960, Jules et Jim, que me veio imediatamente à mente quando soube esta manhã que “Jules” acaba de falecer, aos 72 anos recém-completados.
“Jules” e “Jim”, pelo que eu saiba, permaneceram amigos até o fim. Embora eu tenha praticamente perdido contato com “Jim”, “Jules” e eu trocávamos e-mails eventualmente, para nem mencionar os lindos cartões de ano novo que eu recebia religiosamente, impressos em papel, pelo correio, todo mês de dezembro aqui em Greenville.
“Jules” e “Jim”, ambos arquitetos — embora “Jim” tenha se bandeado para a fotografia no meio do caminho —, foram responsáveis por minha conversão à arquitetura.
“Jules” e eu adorávamos arte e cinema. Há alguns anos, quando eu já havia por minha própria conta abandonado a arquitetura e me tornado escritora e editora, “Jules” me disse que iríamos trocar de lugar porque eu tinha projetado minha casa em Itaipava e ele estava se transformando em escritor.
Depois disso, “Jules” publicou alguns lindos e bem-sucedidos livros para crianças e manteve uma profícua colaboração com a revista Arquiteturismo. Muitas vezes, com as belas fotografias de “Jim”.
Era também um arquiteto talentoso, é claro, tendo sido responsável por vários projetos de espaços públicos em São Paulo junto com sua esposa paisagista.
Deixará (muitas) saudades.
Lembro-me, como se fosse hoje, de “Jules” em Israel, em 1970, me dando de presente uma fita cassete com as “Quatro Estações” de Vivaldi. Tenho também muitas outras lembranças muito vívidas que não vêm ao caso agora.
“Jules” deixa sua esposa e dois filhos, todos igualmente talentosos, e um neto (que eu saiba).
Descanse em paz, Michel.
Tenha um eterno Shabat Shalom no céu.
Memórias inesquecíveis!