Labor Day: tudo acaba em torta
Neste fim de semana temos o feriadão do final oficial do verão.
É bem verdade que ainda faltam praticamente três semanas para o verão terminar, mas, para os americanos, o primeiro fim de semana de setembro marca o fim das férias generalizadas — não é que tirem mais de uma semana, no máximo 10 dias de férias por ano, mas todos fazem isso na mesma época, geralmente em agosto —, o retorno às aulas e o início do período do ano dedicado à seriedade e ao trabalho, daí o nome “Labor Day”, de certa forma equivalente ao Dia do Trabalho comemorado em 1° de maio na maioria dos demais países.
Além disso, serve para manter os EUA bem afastados de qualquer ranço de comunismo, conceito do qual o país foge (ou fugia) como o diabo da cruz. Pesquisando na Wikipédia a coisa fica um pouco confusa porque o site informa que a origem do 1° de maio foi uma greve operária em Chicago, mas é um conceito comunista e pronto — mesmo que eu não consiga explicar por que e esteja sem paciência para pesquisar —, dedicado ao cansaço do trabalhador.
O Labor Day, ao contrário, festeja o trabalho, um conceito valorizado em sociedades capitalistas e diretamente associado ao sonho americano — assim chamado, segundo o comediante George Carlin, porque “é preciso estar dormindo para acreditar nele”.
Mas o que eu queria mesmo dizer é que este ano, pela primeira vez, tive a sensação de ter finalmente me tornado “americana”, vou explicar por quê.
Alan e eu assistimos ontem a um filme com esse mesmo nome — Labor Day (2013), disponível na Amazon Prime —, delícia de filme por sinal, com uma trama super emocional, excelentes atuações de Josh Brolin e Kate Winslet e um raro final feliz, que tem lugar durante o fim de semana... do Labor Day.
A cena crucial do filme, que concentra em seus três minutos séculos de história e amor em família traduzidos em tradição culinária, reúne os três personagens principais em torno da mesa da cozinha para a preparação de uma torta de pêssegos típica do sul dos EUA, local onde estou morando há oito anos.1
Aí é que está. Neste verão que está terminando desenvolvi minhas habilidades de “forno”, como se diz por aqui, e além de ter finalmente comprado uma batedeira e recomeçado a bater bolos, aprendi essa técnica maravilhosa de fazer torta com frutas frescas, especialmente pêssegos, que são enormes e abundantes aqui na região como o filme mostra. Não deixem de conferir.
Vocês poderão me cobrar: o que deu em mim para eu de repente começar a falar de bolos, culinária e tradições antigas? E a ácida verve política, com tanta coisa ruim acontecendo no mundo — entre elas a crise de energia na Europa que, segundo dizem, está regredindo rapidamente de volta à Idade Média com a promessa de cortes de fornecimento durante o inverno — onde foi parar? Estaremos de volta aos tempos da ditadura militar, quando os jornais impressos dos quais sinto tanta saudade sinalizavam a presença constante da infame Dona Solange preenchendo o espaço censurado com receitas culinárias?
Amigos, não é nada disso. É que ando tão cansada de tanta crise e Alan anda tão chateado comigo devido à minha excessiva preocupação com os rumos da civilização — enfatizada pelo meu hábito de escutar as notícias na televisão como “fundo sonoro” durante o dia de trabalho inteiro — que, de vez em quando, dá uma vontade louca de buscar algo agradável para contar, como o prazer que tivemos ao assistir esse filme. Por uma coincidência do destino, exatamente no final de semana do Labor Day.
O Labor Day deste ano marca também o início da fase mais acirrada da campanha eleitoral para as eleições parlamentares aqui nos EUA, e a coisa está feia, viu, com os “dois lados do corredor” se xingando mutuamente 24 horas por dia. Mas o curioso é que os democratas, aparentemente desesperados, estão revertendo várias de suas mais adoradas convicções woke, como a famigerada política de “desfinanciar a polícia” amplamente celebrada pelos esquerdistas e que resultou, como seria de se esperar, no aumento do crime em todo o país.
Em acalorado discurso na Pensilvânia esta semana nosso senil presidente berrou e enfatizou com todas as letras que o governo agora irá fi-nan-ciar a polícia! Menos mal!
Outra coisa curiosa que surgiu esta semana e já se espalhou como um rastilho de pólvora, vocês não vão acreditar, mas é a pura verdade: está todo mundo retirando o que disse durante esses três anos de covid... A governadora de Nova York Kathy Hochul, por exemplo, disse alto e bom som que foi um enorme erro deixar as crianças sem ir à escola por mais de dois períodos escolares. Estamos apenas começando a contabilizar esses prejuízos econômicos, morais, emocionais... são incontáveis, vamos combinar.
Alex Berenson, um dos jornalistas que defenderam ardorosamente no Twitter a liberdade de opção para tomar a vacina e foi expulso “para sempre” da rede social, moveu uma ação contra a plataforma e ganhou a causa. Foi silenciosa e discretamente reabilitado esta semana como se nada tivesse acontecido.
Voltando à história da crise na Europa que citei de passagem aí em cima, juntando a seca, as ondas de calor — que não, não são uma prova do aquecimento global, mas esse assunto vai ter que ficar para outro dia —, as políticas “verdes” e a disposição de eliminar totalmente o carbono da natureza (!) e fazer uma transição radical para a energia renovável, carros elétricos etc. etc. — que, como estamos descobrindo agora, não estavam respaldadas em nenhum plano de transição — temos uma tempestade perfeita que estará obrigando os europeus não apenas a pagar três ou quatro vezes mais pela energia, mas também a se submeter aos cortes de eletricidade durante o inverno...
A Califórnia, no entanto, se mantém firme em sua posição de “paladina verde”. Esta semana o bonitinho mas ordinário governador do estado Gavin Newsom baixou um decreto que eliminará as vendas de carros movidos a gasolina em 2035. Porém, no mesmo parágrafo, sem parar para tomar um fôlego, o impávido governador recomendou aos súditos que evitassem carregar seus carros por conta dos possíveis cortes de energia — devidos, em sua maior parte, às desastrosas políticas de migração impensada e não planejada para os assim chamados combustíveis sustentáveis.
Francamente, isso tudo me lembra a fábula da cigarra e da formiga: “Pois carregue a bateria do seu carro elétrico agora!”
Claro que não estou feliz com nada disso, muito pelo contrário, estou muito preocupada. Mas que é interessante ver o castelo de cartas da energia renovável desmoronar devido à simples falta de uma... tempestadezinha perfeita, isso é.
A melhor coisa dessa onda de mea culpa que começou a assolar os Estados Unidos, e também a Inglaterra (são os jornais que leio mais), é que estamos lentamente, nós, conservadores, começando a perder o medo de nos expressar. Foi um período muito negro de nossas vidas e espero, honestamente, que a maré tenha começado a virar.
Minha heroína da semana é a ex-presidente da Levi’s, Jennifer Sey, que também foi “cancelada” no ano passado por suas opiniões contra a obrigatoriedade da vacina na rede social. A empresa demitiu Jennifer e lhe ofereceu uma compensação de um milhão de dólares para ficar calada, mas a executiva abriu mão de tudo em favor da liberdade de opinião, bandeou-se com o marido para outra cidade e mudou de vida. Esta semana assisti a uma entrevista da ex-executiva na TV, tranquila e satisfeita, comprovando que não devemos ter medo de nada.
Inspiradora!
Para ir além: receita da torta de pêssegos de Labor Day.