Joseph McCarthy não tinha razão
A partir de hoje, e provavelmente até 2 de janeiro, o Caminho do Meio vai entrar em “recesso branco”, significando que durante esse período vou me desobrigar de escrever a não ser que algo muito radical aconteça.
Como ontem, por exemplo, quando a Suprema Corte dos EUA negou ao promotor especial Jack Smith o privilégio de “apressar” sua investigação contra Trump e ignorar algumas etapas obrigatórias para conseguir condenar mais rapidamente o candidato a presidente (com o objetivo de impedi-lo de qualquer maneira, “em nome da democracia”, de concorrer à presidência… antes das eleições de 2024).
Para mim, o importante dessa decisão é que a Suprema Corte sinalizou estar aberta, não exatamente a ajudar Trump a se defender, mas a coibir os abusos jurídicos sendo perpetrados contra o candidato, como no caso da Suprema Corte do Colorado.
No front da guerra em Gaza, as coisas parecem estar seguindo mais ou menos como dantes (78° dia) e… como eu disse, a situação vai meio que se integrando à rotina (o horror!) sem novidades bombásticas, permitindo até que a gente volte a ler artigos idiotas no Times of Israel, como esse, escrito por um israelense, que lamenta o “efeito da guerra sobre a mudança climática”.
Pô. Peraí.
Mas, antes de ir, quero fazer tipo assim, uma correção.
Ontem, uns seis meses depois do resto do mundo, finalmente assisti ao Oppenheimer — depois do jantar de shabat, no conforto da minha caminha (que é enorme, tamanho “king”, coisa de americano, sabem como é).
Eu não estava muito bem informada sobre esse filme, a não ser que fez uma “dobradinha” de sucesso nas bilheterias junto com… “Barbie”.
No verão, os americanos foram conclamados a declarar sua preferência no Barbenheimer (eita povinho que gosta de inventar slogans, sô), isto é, se eram do time “Barbie” ou do time “Oppenheimer”. Já fui logo dizendo que Barbie eu com certeza não era (até hoje não assisti), mas não sabia que tampouco seria Oppenheimer antes da virada do ano.
O personagem de Oppy é certamente fascinante, assim como Einstein e todos os gênios daquela época, que também, como a nossa, era infeliz (final da 2ª Guerra), e as atuações são brilhantes. Mas eu não esperava que o filme, que vocês já devem saber que é uma maratona de três horas, desse prioridade ao envolvimento/não envolvimento de Oppenheimer com o comunismo e a posterior investigação do Senado (digo, macarthismo) objetivando destruir a reputação do físico, “pai da bomba atômica”.
O filme, que não faço ideia se é simpático ao esquerdismo ou não, mostra com clareza como a perseguição aos ditos comunistas foi um tremendo erro político. Oppy nem sequer era comunista. Não tinha interesse em dicotomias políticas, apenas na física e no considerava ser justo e “do bem”.
Havia doado dinheiro às vítimas da Guerra Civil Espanhola? Sim. Isso o tornava comunista? Não.
Traiu seu país “vendendo” para a Rússia o segredo da fissão nuclear? É claro que não. Mas perdeu suas credenciais de acesso à segurança1 mesmo assim.
Sentiu-se culpado por ter matado tantas pessoas com sua invenção? Claro que sim!
Sua mulher, que também foi investigada, ao ser perguntada se era “comunista de carteirinha” disse que sequer se lembrava onde havia posto sua carteira do “partido” a 20 anos atrás, mas isso não satisfez os interrogadores.
Se pensarmos nos ideais comunistas dos anos 1950, não é difícil entender como algumas pessoas podiam acreditar que era a coisa certa em que acreditar.
O problema de tudo isso é que as investigações para “matar” o comunismo nos Estados Unidos se concentraram em celebridades, pessoas de impacto público que não tinham nenhum crime para confessar, deixando que a “arraia miúda” usasse a flagrante injustiça sendo imposta pela elite do governo para seguir doutrinando a massa silenciosamente, sem nenhum alarde.
Se a comissão de Joseph McCarthy não tivesse existido, talvez estivéssemos vivendo em um mundo diferente, então a única conclusão possível é que não, Joseph McCarthy não tinha razão.
Feliz 2024.
Nos EUA, uma espécie de acesso privilegiado, obrigatório para trabalhar em projetos do governo que lidam com a segurança nacional.