Londres 40 graus
O assunto inescapável da semana foi a onda de calor no hemisfério norte.
Em Londres, a temperatura — que, segundo a mídia, bateu todos os recordes históricos — chegou aos 40°C.
Como sempre ocorre no Rio, onde morei por boa parte da minha vida, além do termômetro marcando 40° à sombra — isso, imaginem, na Zona Sul, na orla marítima, coisa que em Londres não existe —, o asfalto “ferveu” e até os trens precisaram parar, porque os trilhos não estão preparados para tanto calor e o metal expandiu, sei lá, mais ou menos isso.
A questão é que tanto em Londres, quanto em outras cidades europeias que também “ferveram”, não só ninguém tem ar-condicionado em casa, como, ainda por cima, as casas são projetadas para conservar o calor.
Não é à toa que as pessoas estão derretendo por lá.
Verão sem ar-condicionado? Nem pensar!
Aqui em Greenville, onde fez bastante calor no mês passado e continua quente, quando fui converter a máxima de 99°F, para minha surpresa, o resultado foi “apenas” 37°C. A sensação, no entanto, é realmente sufocante, talvez devido ao sol da montanha e, como em Londres, à ausência da brisa marinha, ou eu não me deixaria intimidar nem pouco por esse verão “ameno” que eles, digo, nós, temos por aqui, comparando aos 42°, 43° que no Rio são o padrão da estação.
Faz calor no verão, faz frio no inverno. O importante é a preparação da população.
Imaginem se no Rio, no inverno, fizesse 0°C todos os dias e ainda por cima nevasse, sem aquecimento em casa... Meus amigos, o calor pode ser “de rachar”, mas o frio, ah, este mata de verdade. Sem chance de sobreviver se não houver ao menos uma lareira crepitando o tempo inteiro, e não há hidratação nem sombra que amenizem esse perigo.
Como lembrou um repórter no outro dia, a salvo da turba do catastrofismo, muito mais gente morre de frio no inverno do que de calor no verão.
O que permite que nós, seres humanos, sobrevivamos aos rigores do clima são duas coisas: nossa capacidade de adaptação e nossa capacidade de criação, que no século 21 faz com que o mesmo aparelho, cuja presença dentro de casa se resume a meia dúzia de grelhas na parede e um discreto dial, mantenha o nosso corpo confortavelmente funcionando a 23°C, faça calor ou frio, faça chuva ou faça sol.
O problema é que, com essas mui convenientes ondas de calor, a turma do aquecimento global1 está tendo o que aqui nos Estados Unidos chamamos de “field day” — literalmente, “um dia no campo”, mas, em interpretação livre, estão se esbaldando com a boa sorte de poder contar, finalmente, com um calor convincente que é um horror total.
Não é muito difícil, no entanto, derrubar a noção de que as altas temperaturas se devem ao progressivo aquecimento global e, pior, à ação malévola do ser humano, que, como todo mundo sabe, está destruindo o único lugar em que imaginamos poder habitar no universo inteiro.
Um artigo publicado no Washington Post, um jornal de tendências esquerdistas, informa, por exemplo, que em julho de 1936, quando o ser humano nem pensava em abusar voluntária e destrutivamente de sua cota de carbono, os Estados Unidos foram submetidos a uma onda de calor que registrou a maior temperatura já vista no país, 120°F — traduzindo, 49°C —, bem mais do que estamos enfrentando agora. Na época, ninguém pensou em mudar todas as fontes de energia do país e muito menos em culpar seus habitantes pela insanidade da natureza.
Porém, nada disso, nem nenhum chamado ao pensamento racional, nem muito menos um ou outro gato pingado tentando explicar que as pessoas confundem clima com previsão do tempo, conseguiu impedir a farra da turma verde. Antes que o sol amainasse e as temperaturas ameaçassem voltar ao normal, o governo mais do que depressa providenciou o discurso de “emergência climática” do Presidente Biden para defender suas medidas radicais em defesa da salvação da Terra que, nesse meio tempo, estão destruindo a economia dos Estados Unidos.
E daí, né? Tudo vale a pena, se tivermos em mente o bem maior das pessoas que estarão nascendo daqui a uns 100 anos — isso, é claro, se o ataque à família e à reprodução humana não vencer antes. Para nem mencionar que a previsão do tempo não consegue prever nem o dia de amanhã, que dirá o século 22.
E aqui cabe um parêntese rápido: depois que a Suprema Corte americana acabou com a alegria dos ativistas do aborto, os esquerdistas, pasmem, agora estão defendendo a esterilização voluntária das mulheres, e muitas jovens já estão querendo ficar bem na fita se candidatando ao procedimento, para “salvar o planeta”. Quem achar que estou enlouquecendo pode conferir aqui, no Los Angeles Times. Fim do parêntese.
Pois considerando que, como mostram as pesquisas, ninguém está nem aí para o que o presidente diz ou deixa de dizer — ou melhor, de ler no teleprompter — e como qualquer imagem vale mais do que mil palavras, a ultra experiente equipe de mídia governamental, ou, se preferirem, de lavagem cerebral, escolheu a dedo o cenário ideal para o tão aguardado discurso enquanto o calor ainda estava de rachar, mais na Europa do que por aqui, para dizer a verdade.
As boas intenções dos diretores desse teatro eficaz foram traduzidas com perfeição no terreno árido em frente ao qual foi montado o púlpito da salvação da pátria, de onde o nobre herói faria sua proclamação, de terno sem gravata, suando sob o sol do meio-dia.
Agora, para que vocês não corram o risco de acreditar que os Estados Unidos já se estão se transformando na terra arrasada que a imagem acima sugere... vejam aqui essa vista aérea de Somerset, que fica no estado de Massachussetts, a uma hora de Boston.
Deve ter sido uma dificuldade encontrar um local tão horrível na bela Nova Inglaterra — segundo a Wikipedia, “conhecida por seu passado colonial, pelo litoral atlântico, pela mudança das folhas no outono e pelas montanhas cobertas de florestas” — para o discurso climático do presidente celebrando a terrível onda de calor.
Pobre Joe Biden. Após a maratona no lixo fumegante, caiu de exausto na volta para casa e, na manhã seguinte, testou positivo para a covid. Os responsáveis por esse evento apoteótico deviam ser processados por “abuso de idosos”.
Nestes últimos dias foi possível colocar de lado por breves momentos a noção “alternativa” de “mudança climática” porque realmente esquentou, para variar.